A maior greve geral<br>desde a independência
Milhões de trabalhadores dos sectores público e privado aderiram, anteontem, à greve geral convocada contra a precariedade e a liquidação dos direitos laborais, pela elevação dos salários e a criação do salário mínimo, pelo pagamento do trabalho suplementar e contra o aumento generalizado dos preços, em defesa da instalação de um sistema de segurança social universal que abranja o sector informal, e contra o registo obrigatório dos sindicatos nos próximos 45 dias.
Às primeiras horas do dia 28, a paralisação obtinha forte impacto nos transportes, telecomunicações, indústria manufactureira, banca, minas, metalurgia, portos e serviços públicos, apurou a agência Prensa Latina, que garantia que esta era muito provavelmente a maior greve geral desde a independência da União Indiana face ao então império britânico, em 1947.
De acordo com o Partido Comunista da Índia (marxista), o número de desempregados no país aumenta a um ritmo galopante desde o início do ano passado, sendo este um outro factor determinante para a massiva participação na jornada de luta.
Acresce a ruína de largos sectores e camadas intermédias determinada pela política neoliberal imposta a todo o vapor na última década e meia. A título de exemplo, o movimento sindical calcula que desde 1995 mais de 256 mil pequenos agricultores se tenham suicidado fruto do desespero face ao esmagamento das suas condições de vida e de trabalho.
Em contraste, o número de multimilionários com um património superior a 10 mil milhões de dólares ultrapassou, em 2011, os 55, quando no início dos anos 90 eram somente nove.
No total, a Índia concentra mais de um milhão de milionários, ao passo que mais de 400 milhões de pessoas sobrevivem com dois dólares por dia ou ainda menos.
Trabalhadores constróem o futuro
Numa primeira apreciação política à greve geral, o Partido Comunista da Índia (marxista) saudou a gigantesca adesão dos trabalhadores dos vários sectores e ramos de actividade, e salientou o facto de a jornada ter sido, pela primeira vez, convocada por todas as estruturas sindicais.
Numa nota publicada no seu sítio na Internet, o Bureau Político do PCI (marxista) denuncia ainda que em Bengala Ocidental, Jammu, Caxemira ou Assam, os grevistas tiveram de enfrentar a polícia, e que em resultado da repressão «muitos acabaram detidos».
Apesar dos obstáculos colocados pelas autoridades, «a adesão massiva à greve geral é um aviso ao governo por parte dos trabalhadores e do movimento sindical», os quais «não aceitam a indiferença e negligência» do executivo, e «intensificarão a luta em defesa das reivindicações não satisfeitas», sublinha a direcção do Partido Comunista.
«A unidade e militância alcançadas nesta greve devem ser o estribo da construção da alternativa política», considera também o PCI (marxista).
CGTP-IN saúda
Reagindo à realização da greve geral na Índia, a CGTP-IN enviou «aos trabalhadores indianos e ao conjunto do movimento sindical da Índia a sua plena solidariedade».
«Temos acompanhado com preocupação a adopção pelo vosso governo de políticas neoliberais e a diluição da legislação laboral, pondo assim em causa os legítimos direitos dos trabalhadores», salienta-se na missiva.
«Expressamos o nosso total apoio às vossas reivindicações, nomeadamente relacionadas com medidas concretas para conter o aumento dos preços, para gerar e proteger o emprego e as leis laborais, para parar o desinvestimento no sector público, para a fixação do salário mínimo nacional, para a garantia das pensões e para a ratificação imediata das Convenções 87 e 98 da OIT [respeitante à liberdade sindical]», acrescenta-se.
«Em Portugal, na Europa, na Índia e em todo o mundo, este é um tempo de luta dos trabalhadores e dos povos contra a violenta ofensiva neoliberal desencadeada contra os seus direitos e conquistas», conclui a CGTP-IN.